sábado, 28 de abril de 2012

Ticiano na National Gallery

Hoje fui novamente nas visitas guiadas da National Gallery. Gosto de ir aos sábados, às 11h30. Depois fui ao Borough Market comprar umas coisinhas e mostrar a uma colega francesa as delícias de lá. 

A visita de hoje foi excelente, como sempre. O guia nos mostrou essa pérola aí acima, um quadro do Ticiano - A morte de Actéon. O quadro é muito interessante!

O grande pintor Ticiano (1490-1576) nasceu em Pieve di Cadore e morreu em Veneza.  É chamado de "o sol entre as estrelas", considerado um dos mais versáteis pintores italianos, tendo pintado retratos, paisagens, temas mitológicos ou religiosos.

Neste quadro acima, Ticiano retrata o mito de Actéon, que é punido por ter visto a deusa Diana nua (no quadro ela está com um vestidinho básico, hehehehe). 

O poeta Ovideo, em "Metamorfoses" conta a historia mitológica em que Diana, deusa da caça, fica envergonhada e ofendida por ter sido vista nua, e atira água para cima de Actéon transformando-o num veado. Assim, ele não poderia contar para ninguém que a tinha visto nua. Os cães eram acompanhantes dele mas, não o reconhecendo, o atacam.

Há duas abordagens dessa história. Alguns artistas mostram Actéon no momento em que ele surpreende a deusa nua, tomando banho. Outros só mostram a parte final da narrativa, quando ele é devorado pelos cães. Por isso o nome - Metamorfose - pois Actéon é transformado em animal e surge com hastes na cabeça. Ticiano segue a segunda corrente.

(P.S. Minha impressão pessoal sobre o quadro, visto por mim hoje pela primeira vez: a leveza que Ticiano consegue dar para uma histórica mitológica tão triste e trágica. O quadro é lindo, magistralmente pintado. Fiquei com uma sensação - visual e pessoal somente, nunca li nem tenho nenhuma informação sobre isso - que o Ticiano foi um impressionista "avant la lettre"). 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bath - Jane Austen, banhos romanos e muito +



                             Termas Romanas em Bath

Passamos este último fim de semana em Bath, uma cidade muito linda, com uma esplendida arquitetura georgiana, cerca de uma hora e meia de Londres, de trem. A cidade é famosa pelas termas romanas construídas no século 1 (isso mesmo, 1!), um dos maiores vestígios da era romana. A escritora Jane Austen morou lá e dois de seus romances são baseados em Bath. Há muitas atrações na cidade, como o Pump Room, salões de chá que eram ponto de encontro no século 18. Pode-se tomar um chá lá ou almoçar (como fizemos), ao som de um piano e a comida é muito boa! Há também o lindo Royal Crescent, considerada a rua mais imponente da Inglaterra, construída em 1767-70. Bath é patrimônio histórico tombado pela Unesco e o fim de semana lá foi uma delícia! Para os amantes de arquitetura Bath é um "must-go", como dizem aqui.

Royal Crescent, Bath, onde moravam os aristocratas no século XVIII.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Victoria&Albert Museum -


Hoje (quarta, 18/04)  fiz a visita guiada do Victoria & Albert Museum. Dura uma hora e a gente passeia por algumas obras-primas desse imenso e fantástico museu: o acervo é de cinco milhões de objetos armazenados em 13 quilômetros de corredores!
O prédio é muito, muito lindo! O Victoria & Albert Museum  tem o mais bonito café de museu que já vi.
Algumas obras visitadas hoje:

 Acima, um dos "Raphael Cartoons"(1515-1516) , desenhos encomendados pelo Papa Leão X a Raphael de Urbino para servirem de modelos para as tapeçarias da Capela Sistina. Emprestados pela Rainha, retratam cenas da vida de São Pedro e São Paulo.


O tapete é o Ardabil, do século XVI, um dos mais antigos e maiores persas existentes. Fica entre paredes de vidro e a intervalos de uma hora são acesas as luzes para uma visão melhor da peça.





Escultura de marmore de Giovanni Bologna, Giambologna (1529-1608) - "Sansão matando um filisteu".







Abaixo, peça para altar de uma igreja (Santo André), reconstruída entre 1482 e 1498, hoje em Bressanone, Itália.



  














PS. Sempre que volto ao Victoria & Albert Museum lembro de uma querida amiga, Claudinha Santos, talentosa diplomata, a quem devo a descoberta das maravilhas deste museu. Foi com ela que eu fui pela primeira vez nele, no ano passado, e ela me contagiou nos primeiros minutos a apreciar as peças de tapeçaria, cerámica, arte asiática, islâmica, chinesa etc, etc e etc. Até então, toda a minha atenção estava concentrada na pintura. Voltei algumas vezes,  hoje foi apenas mais uma, ainda vou caminhar muito por aquelas galerias.





sexta-feira, 13 de abril de 2012

Praga: para guardar na memória


    (O quadro acima é de um artista contemporâneo theco. Não é impressionante como lembra as obras da Tarsila?)

Conhecer Praga era um dos itens do topo da minha lista. Eu queria tanto ir que até tinha medo de ficar um pouco frustrada. Mas não. A cada esquina, você se surpreende com mais um prédio deslumbrante que surge na sua frente. Você para um pouquinho para apreciar, tirar uma foto, ou tentar lembrar se você leu alguma coisa sobre este tesouro da arquitetura que está ali para seu desfrute. Esta cena se repete incontáveis vezes ao dia. Praga é muito mais do que as fotos mostram, muito mais do que a gente imagina. No frio, com sol ou com nuvens, a cidade é exuberante, contagiante.

Fiz um city tour bem básico, de duas horas, mas deu para ter uma ideia razoável de Praga. O rio Moldava percorre a cidade,  localizada nas colinas da Boêmia central, e é uma espécie de santo padroeiro para embelezar qualquer foto. A parte antiga da cidade fica ao sul da curva do rio - a Ponte Carlos, a passagem original sobre o rio Moldava, é o ponto de origem do crescimento da cidade. No lado ocidental fica Malá Strana (Pequeno Bairro), onde eu estava hospedada (seguindo orientação do Ricardo Freire). O bairro Malá Strana é chamado nos guias turísticos de "a Rive Gauche" de Praga, por causa dos belos edifícios barrocos e praças cercadas de bares e cafés.

Na parte oriental da Ponte Carlos fica a rua Karlova, lotada de turistas que leva ao coração da Cidade Velha (Staré Mesto) medieval.  Lá estão as atrações mais conhecidas de Praga, como o Relógio Astronômico, a Casa Municipal (um prédio maravilhoso em estilo art noveau mas onde se paga uma fortuna por um sanduichezinho mais ou menos), o Museu Judaico (que não deu tempo de ir). Mas há ainda muitos "high lights", como a Praça Venceslau, o Museu Mucha, o Museu Nacional, entre outros destaques.

Um amigo sugeriu que eu escrevesse sobre as minhas impressões de Praga. Bem, além da paixão já confessada no início, eu diria que o pensamento que mais me ocorreu nos quatro dias em que estava lá foi: como esse povo sabia viver! Esse "savoir vivre" pode ser sentido a cada relíquia de arquitetura gótica, barroca, art nouveau com a qual você tem a sorte de se deparar. O guia Lonely Planet chama a atenção que em Praga novo significa ser do século XIV. Dá para imaginar? O Brasil nem sequer tinha sido descoberto. Outra coisa impressionante é o quanto as pessoas (eu também, claro!) sabem quase nada sobre a história de Praga, que já foi sede do Sacro Império Romano. Resume o Lonely Planet: "não o império de Nero em Roma, mas a miscelânea de reinos e principados cristãos espalhados pela Europa, que haviam se desenvolvido nos séculos XIV e XV".

  É preciso um bom conhecimento de arquitetura para reconhecer os exemplos majestosos de prédios nos estilos barroco, gótico, românico, renascentista, neoclássico e outros neos, art nouveau, cubista, funcionalista e os construídos durante o tempo em que os tchecos viveram sobre o domínio comunista.

E ainda nem falei sobre arte, que foi um dos pontos altos da viagem à Praga. A cidade respira arte - de todos os períodos - e acho que há mais galerias de arte do que peixes no rio Moldava. O próprio hotel em que fiquei já era uma viagem pelo design, com móveis vintage das décadas de 50, 60 e 70. Há os museus do Alfons Mucha (art nouveau),  do Dvorak e do Kafka. Quatro dias é muito pouco para tanta oferta. Mas consegui ficar duas horas no Palácio Veletrzní (Palácio da Feira Comercial), um prédio funcionalista construído em 1928 para feiras comerciais. Hoje abriga uma maravilhosa coleção de arte tcheca e europeia dos séculos XX e XXI da Galeria Nacional. Tinha uma exposição lá (não sei se era permanente ou temporária, nem deu tempo de checar isso) com pequenas maquetes sobre cenários feitos para montagem das peças teatrais nas duas primeiras décadas do século passado. Fiquei encantada, porque foi uma "aula" sobre a modernidade da vanguarda na cenografia. Uma maravilha. Cenários minimalistas para montagens de "Otelo", "Hamlet", e outras peças famosas que ainda hoje seriam arrojados. 

Para terminar, porque este post está imenso, Praga é uma maravilha que merece ser visitada. Para os sortudos que puderem, mais de uma vez.


domingo, 1 de abril de 2012

Veronese - A família de Dario diante de Alexandre






Ontem, sábado, fui novamente fazer a visita guiada da National Gallery (isso está virando um vício ... hehehe). Cheguei lá e tinha uma fila de umas 80 pessoas. Disseram que, por causa de uma ameaça de protesto, eles estavam revistando as bolsas das pessoas. Enquanto esperava na fila (afinal, já tinha ido até lá ...) passou um dos funcionários da National Gallery dando um voucher para um café grátis, uma espécie de pedido de desculpas pelo transtorno. 
A visita, como sempre, valeu MUITO a pena. Um dos quadros visitados ontem foi este de Paolo Veronese, pintado entre 1565 a 1570. É uma tela enorme, mas um visitante pode passar batido se não souber nada sobre a obra (meu caso até ontem). A tela mostra a família de Dario III em frente de Alexandre, o Grande. Em 333 A.C., Dario III, rei dos Persas, foi vencido por Alexandre na Batalha de Isso, travada próxima à cidade de Isso, na Ásia Menor.  Vencido, Dario fugiu com tanta pressa que abandonou mãe, esposa e filhos. Alexandre, contam, ao saber da captura dos parentes de Dario, mandou dizer que eles receberiam, de sua parte, o prestígio e o título de sua posição real. 
Algum tempo depois, os familiares de Dario se encontram com Alexandre e, por engano, a mãe de Dario ajoelhou-se em frente a um general amigo de Alexandre, Heféstion, em vez de render homenagem ao próprio Alexandre. Mas Alexandre foi magnânimo e a perdoou gentilmente, segundo a História. Como a tela foi encomendada por uma das famílias nobre de Veneza da época, os rostos da mãe de Dario, Sisygambis, de Alexandre e do general, podem retratar os familiares dos nobres venezianos.
É uma maneira muito agradável de aprender história e arte ao mesmo tempo, não é mesmo?


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